quarta-feira, 30 de junho de 2010

Ôba! Ôba!

(Foto de Francisco Mendes)

Os órgãos de comunicação social rejubilam: pela primeira vez, desde 2002, o PSD ultrapassa a percentagem de intenção de voto no PS – diz a primeira sondagem realizada pela Universidade Católica desde que o PSD tem um novo líder. E mais! A direita unida – PSD mais CDS – está no limiar da maioria absoluta!

Até que enfim! Os media (por favor, não digam “midia” porque essa é a pronúncia inglesa da palavra latina “media” que deve ser lida e dita com –é) têm estado à espera disto como pão para a boca para poderem começar (ou direi continuar?) a manipular a tendência. De facto, têm feito de tudo para porem o governo e, em especial, o Primeiro Ministro de rastos. A crise económica e social e política e de toda a ordem não é uma crise europeia nem mundial. A crise quem a provocou e a promoveu foi este PM. Aliás tudo de mal que acontece se deve a este PM. Se o desastre ambiental que se está a dar nos mares dos Estados Unidos tivesse deflagrado nos nossos mares também seria culpa do PM!...

E agora aí vamos nós! Com esta pequena vantagem do PSD vamos fazer os possíveis para a aumentar, vamos afundar mais o governo e, quando tudo estiver mais ou menos alinhavado, vamos tratar de deitá-lo abaixo e experimentar outro! O que é preciso é castigar esta administração por tudo o que fez ou não fez e deveria ter feito. Mesmo que a próximo venha a fazer pior. Não interessa. Atiram-se as culpas para o anterior. Tem vindo a ser assim desde há anos e com vários governos. Isto nem pode dizer-se que é a alternância democrática. É uma “ingovernância” democrática (passe o neologismo...)! Há um governo a trabalhar com uma minoria parlamentar? Então há que deitá-lo abaixo porque pode ser que os outros façam melhor, ou mais a nosso jeito! (“Naturalmente, os mais avisados dentro do PSD sabem que ainda não é chegado o momento. Lá para Outubro ou Novembro de 2011, talvez. Antes é preciso obrigar o PS a acabar o trabalho sujo.” – li num blog das direitas)

Agora já temos uma nova figura (que até tem boa figura, diga-se...) que tem dito aquelas coisas que as pessoas querem ouvir e pronto! Aí vamos nós, à espera de outro D. Sebastião! Que é isso que sempre queremos: é um D. Sebastião, um messias redentor, um pai, um protector que faça o que puder por nós para que nós possamos continuar sossegadinhos no nosso cantinho a apostar no Euromilhões e à espera que nos saia um automóvel no ColaCao. Foi assim que malbaratámos 48 anos da nossa história e, se for preciso repetir...

terça-feira, 29 de junho de 2010

O Principezinho em dia de S. Pedro


Hoje é dia de S. Pedro e, a propósito lembro-me que ainda aqui não falei da palestra sobre Cultura em Noite de S. João que se realizou no Moinho de Papel cá em Leiria. Terá de ficar para outro dia. Até porque se celebra hoje, dia 29 de Junho, o 110º aniversário do nascimento do escritor aviador (1900-1944) Antoine de Saint-Exupéry (já viram como o Google está festivamente engalanado?) autor de “O Principezinho”, conhecido livro para crianças que, na minha modesta opinião, tal como a “Alice no País das Maravilhas” é mais para adultos que para crianças.

É de tal modo um livro carregadinho de mensagens importantes e de ensinamentos para filhos e pais que não resisto a deixar aqui um excerto recebido de uma amiga e colega.


«- Ando à procura de amigos. O que é que «estar preso» quer dizer?
- É uma coisa de que toda a gente se esqueceu – disse a raposa. – Quer dizer que se está ligado a alguém, que se criaram laços com alguém.
- Laços?
- Sim, laços – disse a raposa. – Ora vê: por enquanto, para mim, tu não és senão um rapazinho perfeitamente igual a outros cem mil rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Por enquanto, para ti, eu não sou senão uma raposa igual a outras cem mil raposas. Mas, se tu me prenderes a ti, passamos a precisar um do outro. Passas a ser único no mundo para mim. E, para ti, eu também passo a ser única no mundo…

[...] se tu me prenderes a ti, a minha vida fica cheia de Sol. Fico a conhecer uns passos diferentes de todos os outros passos. Os outros passos fazem-me fugir para debaixo da terra. Os teus hão-de chamar-me para fora da toca, como uma música. E depois, olha! Estás a ver, ali adiante, aqueles campos de trigo? Eu não como pão e, por isso, o trigo não me serve para nada. Os campos de trigo não me fazem lembrar nada. E é uma triste coisa! Mas os teus cabelos são da cor do ouro. Então, quando eu estiver presa a ti, vai ser maravilhoso! Como o trigo é dourado, há-de fazer-me lembrar de ti. E hei-de gostar do barulho do vento a bater no trigo…

[…]
Foi assim que o principezinho prendeu a si a raposa. E quando chegou a hora da despedida:
- Ai! – exclamou a raposa – Ai que me vou pôr a chorar…
- A culpa é tua – disse o principezinho. – Eu bem não queria que te acontecesse mal nenhum, mas tu quiseste que eu te prendesse a mim…
- Pois quis – disse a raposa.
- Mas agora vais-te pôr a chorar! – disse o principezinho.
- Pois vou – disse a raposa.
- Então não ganhaste nada com isso!
- Ai isso é que ganhei! – disse a raposa. – Por causa da cor do trigo…»


(foto do autor aviador Saint-Exupéry pouco antes de desaparecer em 1944)

segunda-feira, 28 de junho de 2010

O amor é o amor


(Cupido by E. Munch)

(A propósito de um texto de um amigo bloguista que dizia que não entendia por que razão gosta da mesma praia há quarenta anos com o mesmo gostar de sempre, (re)lembrei-me deste lindíssimo poema do poeta surrealista Alexandre O'Neill que viveu algo sufocado nos tempos salazaristas.)

O amor é o amor - e depois?!
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?...


O meu peito contra o teu peito,
cortando o mar, cortando o ar.
Num leito
há todo o espaço para amar!


Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor,
e trocamos – somos um? somos dois? –
espírito e calor!


O amor é o amor - e depois?!

(Alexandre O'Neill, in
"No Reino da Dinamarca")

domingo, 27 de junho de 2010

Vida Útil para o Futuro

Calhou assistir há dias a um programa num dos canais da televisão em que era orador o Professor Ernâni Lopes, conhecido economista que chegou a ser Ministro da Economia na década de oitenta, em que, como vai sendo habitual, falava sobre a nossa pobre economia.

E digo “calhou” porque não tenho grande (para não dizer nenhuma) apetência para ouvir economistas, sobretudo depois de nos ter desabado esta crise em cima, porque, de uma maneira geral, são muitos teóricos ou muito derrotistas o que me incomoda bastante. No entanto, detive-me a ouvir o professor já que, para combate à referida crise e instalação da harmonia, ele defendia uma verdadeira mudança das mentalidades por meio da afirmação de uma série de atitudes, valores e comportamentos de todo contrários aos aplaudidos actualmente.

O que foi dito foi mais ou menos o seguinte:

· Como é que deixámos Portugal chegar a este ponto?
· A vergonha desta geração, é quando os netos perguntarem, "como é que deixaram Portugal chegar a este ponto, com os custos lançados sobre as gerações seguintes"?
· É preciso separar o que é superficial do que é profundo, senão os erros ficam misturados e não se percebe.
· Temos uma apetência pelo superficial e imediato, e isso teve custos tremendos.
· A Bolsa e a Dívida externa, a finança superficial, está desligada da Economia real.
· Na década de 80, os fluxos financeiros (de capitais, taxas de juro, operações cambiais, capitais a curto prazo,... movimentos financeiros que não são a contrapartida para movimentos económicos), desligaram-se completamente da economia real.
· Na economia mundial, o fluxo financeiro é 60 vezes maior que o fluxo económico!
· É preciso descaramento para dizer que "fomos apanhados de surpresa por esta crise"!
· Se os Valores, as Atitudes, os Padrões de Comportamento são de laxismo, de desonestidade, de aldrabice, de mandriice, não há taxas de juro que cheguem; é uma mentira; a economia não se faz com medidas superficiais, faz-se com seres humanos e organizações humanas;
· Valores, Atitudes, e Padrões de Comportamento são fundamentais. Tem a ver com o que ensinamos aos nossos filhos;
· Nós ensinamos que quanto mais aldrabões, mais desenrascados, mais espertalhões, chicos-espertos, melhor? É isso que faz a carreira das pessoas?
· Faz uma carreira de aldrabões, não faz uma carreira de gente honesta!
· Os valores que moldam os nossos filhos são a golpada permanente, ou o trabalho sério?
· Esta opção individual, cabe a cada família, e está na base da economia!

E depois apresentou um quadro a que chamou de “Vida útil para o Futuro” nestes termos que verdadeiramente me encantou e por isso o copiei para trazer aqui. Atrevo-me a acrescentar que, para além da opção individual das famílias que o professor advoga, este deveria ser uma quadro de valores a ser utilizado em cada projecto educativo de cada escola!

Trocar                                                      Por

Facilitismo                                            Exigência
Vulgaridade                                         Excelência
Moleza                                                Dureza
Golpada                                              Seriedade
Videirismo                                                 Honra
     Ignorância                                           Conhecimento
Mandriice                                           Trabalho
      Aldrabice                                            Honestidade


sábado, 26 de junho de 2010

A humildade

Recebi de uma amiga uma mensagem daquelas muitas mensagens simpáticas que correm na net e que achei muito bonita por muito simples e verdadeira. Dizia assim:

A felicidade mantém-te gentil
Os obstáculos mantêm-te forte
As mágoas mantêm-te humano
Os choques mantêm-te humilde.

Tocou-me especialmente por falar da humildade, qualidade tão esquecida de todos nós portugueses nos tempos que correm. Fala-se muito de arrogância e de como os políticos são arrogantes e de como os jornalistas e estes e aqueles outros se mostram arrogantes – o que é de facto muitas vezes verdade – mas pouco ou nada se faz ou diz para nos tornarmos humildes.

A humildade é uma palavra (e um conceito e um comportamento) infelizmente caído em desuso no nosso país. Se nos mostrarmos humildes rapidamente passamos por parvos, por pacóvios, por néscios. Tem-me acontecido ao longo dos anos, tratarem-me por Dr.ª e eu rio-me e digo “chame-me pelo meu nome que é Graça e eu gosto”; a atitude de grande parte dos ditos interlocutores altera-se de imediato...

As pessoas deveras inteligentes e sabedoras e boas são naturalmente humildes e simples; não precisam de arrogância nem de bazófia para se afirmarem.

A propósito, vem-me sempre à cabeça o extraordinário filme Dogville que vi há anos protagonizado pela minha muitíssimo apreciada Nicolle Kidman que é um verdadeiro hino à humildade e à não arrogância que impera nestes nossos tempos algo caóticos.

Se não viram, gastem hora e meia a vê-lo que é, de facto, uma obra interessantíssima.




sexta-feira, 25 de junho de 2010

Regata de Barcos Rabelos no Rio Douro


Foi ontem, dia de S. João, feriado na cidade do Porto, que se realizou mais uma regata de barcos Rabelos no rio Douro. Que bonito deve ter sido de ver sair aqueles belos barcos que no século passado transportavam as pipas de vinho desde as quintas que povoam as margens do rio até às caves em Vila Nova de Gaia.


Actualmente estes barcos já não são utilizados para o transporte de vinho, e muitos deles encontram-se atracados em Gaia "decorando" a margem e fazendo publicidade às marcas.

Então, uma vez por ano, saem para a prova a que se assistiu ontem de novo, representando as respectivas marcas e com os velejadores vestidos a rigor com as vestes das suas confrarias. Depois é só esperar que o vento sopre de feição!








A "prova" começa na foz dirigindo-se até à ribeira, junto à ponte de D. Luiz I. Que bela paisagem naquele rio Douro meio selvagem que mal se deixa sujeitar pelas margens que o apertam e limitam sem o deixarem espraiar-se! E com aquela luz meio translúcida característica do Porto, que desce sobre nós quando, na curva, somos surpreendidos por aquelas pontes de ferro tão bonitas!



quinta-feira, 24 de junho de 2010

Feira dos livros em saldo no Mercado da Ribeira


(Mercado da Ribeira, Lisboa, 1890)

(Mercado da Ribeira, 1926)

(Mercado da Ribeira na actualidade)

Fiquei a saber hoje que arranca no próximo sábado, dia 26, outra edição da feira do Livro Saldos de Verão no Mercado da Ribeira e que vai estar aberta diariamente até ao dia 11 de Julho. São milhares de livros em fim de edição e em saldo, usados e manuseados que vão estar à venda a preços mais baixos, lá em cima no 1º andar do velho mercado.

Se calhar vale a pena gastar um dia de férias ou de fim-de-semana para dar um saltinho até Lisboa, à beira Tejo, gozar aquela luminosidade maravilhosa que só Lisboa tem (ai meu deus, que me vão já cair em cima...) e poder manusear à vontade dezenas de livros, ler pedaços, passar-lhes os dedos por cima, eventualmente trazer alguns para ter lá em casa e ler nas férias.

Quando oiço falar no Mercado da Ribeira, que já não tem a vida de mercado que tinha para trás dos anos 80, 70 do século passado, lembro-me sempre do fado “O Namoro da Rita” e dá-me para trautear os primeiros versos:

No mercado da ribeira
há um romance de amor
entre a Rita que é peixeira
e o Chico que é pescador

Não, eu não gosto nada de fado. Devo ser das poucas lisboetas que não gosta de fado. Mas tolero o fado gingão, acho-o engraçado. E, além disso, traz-me esta canção uma outra recordação remota. Aí por 1959/60/61, a minha mãe, que era professora primária em Sintra, tinha também por missão levar as meninas da sua escola de Santa Maria à Praia das Maçãs no eléctrico. ´


Eu, que era da idade das alunas da minha mãe, também ia à praia, claro! Nesse eléctrico também viajavam os rapazes da escola de S. Martinho. E, já se vê,  havia paródia, cantoria e pequeninos pretensos namoricos entre eles e nós... Ora uma das canções que se cantavam era esta com a adaptação dos nomes e das profissões. Os rapazes de S. Martinho trocavam o nome da Rita pelo meu e o do Chico pelo de um amiguinho Rui, que malogradamente foi chamado aos céus aí pelos seus 15 anos. E eu ficava tão zangada! Ainda por cima na presença da minha mãe.... Ingenuidades daqueles tempos!

Entretanto fica aqui o fado "O Namorico da Rita" intterpretado pela Amália Rodrigues para quem gosts poder recordar.





quarta-feira, 23 de junho de 2010

Acabe-se com as DRE!



O Professor Ramiro Marques tem toda a razão quando diz que o Ministério da Educação pouparia uns milhares se dissolvesse as Direcções Regionais de Educação. O de professores (cheios daquela sabedoria com que nos enchem os ouvidos pelo telefone para as escolas) que voltariam a ocupar as suas vagas nas escolas! O de recursos materiais, dinheiro em ajudas de custo e eu sei lá o que mais que se pouparia!

É que, de facto, as DRE (pelo menos a do Centro, que é a que eu conheço bem) não servem para nada! Se não, vejamos. A lei orgânica destes organismos define as direcções regionais de educação como “serviços executivos que devem assegurar a orientação, a organização e o acompanhamento das escolas”. Nunca me vou esquecer das palavras da Dr.ª Fernanda Mota Pinto, primeira directora regional de educação do centro, em 1987, quando reuniu com os então Conselhos Directivos para lhes/nos dizer que a DRE não era um superior hierárquico, era “um serviço de apoio às escolas para deixar os CD libertos para tratar dos alunos”. Pois, pois! Ela havia de ver como a sua DRE está actualmente!

Abafa as escolas com constantes pedidos de preenchimento de questionários on line, relatórios e apanhados de duvidosa serventia. Quando se lhe faz um pedido de esclarecimento, ou não se obtém resposta ou vem uma resposta (curiosamente de um chefe de divisão que até se apresenta como jurista) tão dúbia, tão ambígua, que ainda nos atrapalha mais.

O mais frustrante ainda é quando se envia um pedido de ajuda para obviar a uma irregularidade perante a lei e o que obtemos como resposta é o mais abjecto silêncio. E quando se envia um premente pedido de esclarecimento ou de apoio à própria directora regional e obtemos a tal resposta ambígua do senhor jurista?

E quando vemos esta direcção regional a nomear como vice-presidente de um órgão de gestão de uma escola em Coimbra uma professora que esteve três anos de baixa e se apresentou ao serviço na passada semana! E quando vemos esta direcção regional e mandar dar posse a um director duas semanas antes do final do 2º período! E quando vemos que um director desnomeia elementos do Conselho Pedagógico para nomear outros mais a seu gosto na semana entre as reuniões de avaliação final e as reuniões de CP para decisão das retenções repetidas e outras tomadas de decisões iniciadas pelos elementos anteriores. E quando vemos professores do ensino básico, da escolaridade obrigatória, dar níveis 4-3-2 , ou 2-2-1, ou 3-3-2 na sequência dos três períodos lectivos? E quando assistimos a outros desmandos legais e tudo é aceite silenciosamente?

E qual é a posição da DREC perante tudo isto? Para que serve a DREC?


Novo Estatuto da Carreira Docente



Saíram hoje, em Diário da República, o novo ECD e a nova ADD. O texto abaixo foi retirado do ProfBlog, do Professor Ramiro Marques. Agora há que ler os novos diplomas.

Decreto-Lei 75/2010 de 23 de Junho

Decreto Regulamentar 2/2010 de 23 de Junho

"O primeiro diploma define o quadro jurídico do estatuto da carreira docente. O segundo, o modelo de avaliação de desempenho docente.

Uma leitura rápida pelos diplomas revela que respeitam o texto do acordo de princípios com os sindicatos. Não têm novidades em relação ao que já era conhecido pela leitura dos projectos.

Tudo o que estiver relacionado com aumento de despesa pública, progressões e concursos para recrutamento de pessoal, depende de aprovação prévia do ministro das finanças. E essa dependência pode provocar o congelamento de algumas medidas.

Tudo vai depender do evoluir da crise e da pressão feita pelo eixo-fraco-alemão e pelo BCE. Pode Portugal escapar à redução imediata de 10% na despesa pública e às medidas violentas que países como a Alemanha, a França, o Reino Unido, a Espanha, a Irlanda e a Grécia tomaram? Não creio.

Mais algumas palavras sobre os efeitos da Lei 12-A/2008 sobre a natureza dos vínculos e dos contratos dos docentes.

Todos os corpos especiais - dos médicos aos enfermeiros, passando pelos docentes do ensino superior - viram os quadros serem substituídos por afectação a mapas de pessoal associados a contratos por tempo indeterminado. Os educadores de infância e os professores do básico e secundário são o único corpo especial a quem a Lei 12-A/2008 ainda não foi aplicada.

A crer nas palavras do secretário de estado adjunto e da educação, proferidas ontem no Parlamento, há ordem do ministro das finanças para que a Lei 12-A/2008 se aplique também aos docentes do básico e secundário.

Convém ler com cuidado e sem paixões o que a lei diz. Não existe diferença de conteúdo entre pertencer a um quadro e ter um contrato por tempo indeterminado. Nenhum médico, enfermeiro ou docente do ensino superior ficou com o contrato mais precário pelo facto de passarem a estar incluídos em mapas de pessoal e a terem contrato por tempo indeterminado."

(Palavras do Professor Ramiro Marques, hoje, no seu ProfBlog)

terça-feira, 22 de junho de 2010

Elephant Parade


Ouvi hoje, no noticiário, que distribuíram vinte e tal pianos pelas ruas de Nova York para serem utilizados pelo público. São malucos, pensei. E se chove? E se os vandalizam? Mas deve ser muito giro.

Lembram-se aqui há há uns quatro ou cinco anos a exposição de vacas pintadas que houve em Lisboa? Foi a chamada Cow Parade. Fui para Lisboa passar um fim-de-semana só para as fotografar. Lindas! Decoradas com muita  imaginação. Hei-de mostrá-las aqui para recordarmos.

Também em Leiria se fez, há dois anos uma Apple Parade para celebrar a maçã de Alcobaça, lembram-se? Mas eu, sempre "encafuada" na escola, nem dei conta e, quando soube, já as maçãs tinham sido retiradas!

Agora em Londres estava patente uma Elephant Parade com elefantes decorados de que também fiz algumas fotografias  que vou passar aqui.

Em Green Park






Em Trafalgar Square:


Em Covent Garden:



E até na loja dos brinquedos, no Hamleys:



Aren't they just lovely?!


segunda-feira, 21 de junho de 2010

"A Cultura em Noite de São João"

Como sócia recente, tenho o dever de arregimentar interessados para os eventos da ADLEI...
É por isso que deixo aqui o convite para a noite de São João. Vamos festejar o solestício! É na noite de 23 de Junho, pelas 9 da noite, no Moinho de Papel, em Leiria.


Apareçam! Confirmem para: 244 815 160 ou adlei.leiria@gmail.com

Chegou o Verão!



Deu-se aí pela uma da manhã do dia de hoje o solestício de verão que deu início ao Verão do presente ano. Nas culturas pagãs os solestícios eram muito celebrados já que estavam intimamente ligados às deusas da fertilidade e às fadas e duendes da terra. Estes ritos foram depois assimilados e também comemorado pelos Romanos (o deus Janus). Ainda hoje se celebra um pouco por todo o lado o solestício especialmente o de Verão.

Para celebrar o primeiro dia de Verão, deixo aqui um lindíssimo poema de Alberto Caeiro e a canção Summertime da opera folk de George Gershwin Porgy and Bess na belíssima interpretação de Ella Fitzgerald e Louis Armstrong.


No Entardecer dos Dias de Verão

No entardecer dos dias de Verão, às vezes,
Ainda que não haja brisa nenhuma, parece
Que passa, um momento, uma leve brisa...
Mas as árvores permanecem imóveis
Em todas as folhas das suas folhas
E os nossos sentidos tiveram uma ilusão,
Tiveram a ilusão do que lhes agradaria...
Ah, os sentidos, os doentes que vêem e ouvem!
Fôssemos nós como devíamos ser
E não haveria em nós necessidade de ilusão ...
Bastar-nos-ia sentir com clareza e vida
E nem repararmos para que há sentidos ...
Mas graças a Deus que há imperfeição no Mundo
Porque a imperfeição é uma cousa,
E haver gente que erra é original,
E haver gente doente torna o Mundo engraçado.
Se não houvesse imperfeição, havia uma cousa a menos,
E deve haver muita cousa
Para termos muito que ver e ouvir ...

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XLI"


Summertime

Summertime and the livin’ is easy
Fish are jumpin’ and the cotton is high
Oh your daddy’s rich and your ma is good lookin’
So hush little baby, don’t you cry
One of these mornings
You’re goin’ to rise up singing
Then you’ll spread your wings
And you’ll take the sky
But till that morning
There’s a nothin’ can harm you
With daddy and mammy standin’ by




Enjoy your Summer!

domingo, 20 de junho de 2010

Roteiro Republicano de Leiria

A Comissão Organizadora das Comemorações do Centenário da República em Leiria, que conta com a participação activa do Dr. Acácio de Sousa do Arquivo Distrital de Leiria, da direcção do Orfeão de Leiria e da Câmara Municipal, organizou o 2º Roteiro Republicano de Leiria, desta vez, encenado, que teve lugar ontem, dia 19, pelas 17 horas, partindo do Terreiro, frente à Biblioteca Municipal.

E, às cinco da tarde, com algum calor porque o Sol lá nos fez o favor de se mostrar, juntou-se ali um grupo de gente interessada nestas coisas, a ouvir do Dr. Acácio de Sousa, o relato dos acontecimentos republicanos de há cem anos atrás.


Aí vamos nós, Rua José Estevão, Rua Alfredo Keil, em direcção ao Largo Cândido dos Reis - tudo nomes de republicanos, maçons, carbonários que conseguiram deitar a monarquia a baixo.



Tendo o Castelo como fundo



No Largo Cândido dos Reis, a República chora a morte do seu herói, o próprio Cândido dos Reis, que se suicidou no dia 5 de Outubro, depois de saber que tinahm matado o Dr. Miguel Bombarda,  julgando tudo perdido.


Na Praça Rodrigues Lobo fomos "recebidos" pelo maçon, venerável da Loja Maçónica de Leiria à época, a Loja Gomes Freire, e primeiro presidente da Câmara Municipal de Leiria republicano.


Depois foi a altura de nos "encontrarmos" com o Dr. Correia Mateus, figura ilustre de Leiria, presidente da Câmara, advogado, professor do Liceu, que nos contou, orgulhoso e entusiasmado, muito da história da Leiria de há cem anos.



Seguimos pela "sua" Rua (Dr. Correia Mateus) que, curiosamente, fora inaugurada fez ontem exactamente 81 anos. Ainda nos "encontrámos" com a figura do Zé Povinho que nos fez uma breve prelecção sobre o seu trabalho e pouco reconhecimento (sempre!)
Fomos ter à  Rua Machado dos Santos, outro republicano, carbonário, um dos principais protagonistas da implantação da República, até ao Largo da República.


A Câmara Municipal está instalada num belo edifício projectado e construído pelo também republicano Arquitecto Korrodi.


Por fim, fomos acolhidos no salão nobre da Câmara pelos "anfitriões" da nossa tarde que nos falaram vantagens e dos malogros da República - que, apesar de tudo, valeu a pena porque tudo foi feito em nome da Liberdade, da Igualdade, e da Fraternidade.

                                      

Não resisto a deixar aqui três apontamentos meus:

 O primeiro, os meus agradecimentos e a minha homenagem ao Dr. Acácio de Sousa pela dedicação, pelo trabalho e pela alegria que põe na preparação e acompanhamento destas comemorações;
 O segundo é que a Loja Gomes Freire continua a laborar com os mesmos ideais republicanos;
 O terceiro, uma fotografia da "jovem República" que tão bem desempenhou o seu papel.

                                             

sábado, 19 de junho de 2010

Os "Nuno-cratos" das escolas


Devo começar por dizer que tenho toda a consideração pelo Professor Nuno Crato, importante estudioso e investigador e actual Presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática e que, com este texto, não pretendo – nem a tal me atrevia – criticar as suas posições relativamente às coisas da educação.

Aí por 2006, o professor escreveu o livro “O ‘Eduquês’ em Discurso Directo – Uma Crítica da Pedagogia Romântica e Construtiva” no qual simplesmente deita por terra as políticas e as teorias educativas que se adoptaram para o ensino básico no nosso país desde os anos 90, nomeadamente a definição dos currículos e das metas finais a partir de competências mais do que dos conteúdos, a teoria do aprender a aprender e a importância da aprendizagem centrada no aluno em detrimento centrado mais no professor. Insurge-se contra as teorias construtivistas no desenvolvimento dos currículos que apelida de românticas e atribui às novas formas de ensino-aprendizagem um carácter de laxismo, palavra que depressa se colou ao ouvidos dos portugueses que, pobres em vocabulário, a repetem sem saberem muito bem do que estão a falar.

Devo dizer também que um bom professor, daqueles que se preocupam com o facto de os seus alunos ficarem bem equipados com saberes, não estão a ver se trabalham para as competências ou para os conteúdos, ou se é por objectivos, ou se por áreas. Um bom professor trabalha organizadamente e faz os seus alunos trabalharem o máximo para aprenderem. Ponto. Eu, pelo menos, sempre fiz assim. E os meus alunos sempre “se queixaram” que era nas minhas aulas que escreviam mais e era nas minhas disciplinas que os seus dossiers ficavam mais cheios. Garanto que nas minhas aulas e com os meus alunos não havia laxismos: eles tinham que trabalhar e pronto; e não havia pontos mortos nas aulas, nem tempo para se falar disto e daquilo... Mas também não havia “maldades” nem “vingançazinhas” nas notas. Mesmo antes da escolaridade ser obrigatória para todos, quando nem todos os alunos eram obrigados a vir para a escola e em que eu “dava” muitas negativas, os alunos sabiam sempre o seu progresso ou não progresso.

E onde me parece estar a confusão é aí: na noção de escolaridade obrigatória.

Quando a escolaridade não era obrigatória, muitas das crianças e dos jovens não vinham para a escola e muitos dos que vinham, se não tinham sucesso, saíam, iam para casa ou passavam ao mundo do trabalho. Pode dizer-se que o ensino era selectivo: quem aprendia, aprendia; quem não queria ou não conseguia aprender, ia embora. E as escolas faziam a sua vida de liceus e os professores seleccionavam os alunos que aproveitavam e podiam “dar” as negativas que entendessem e comportar-se como professores de liceu. Só passavam os alunos que aprendiam os conteúdos das disciplinas e não se falava, por isso, de facilitismo.

Com o advento da escola de massas e com a obrigatoriedade de todos irem para a escola e lá se manterem até aos 15 anos, nos finais dos anos 80 e nos anos 90, esta forma de trabalhar teve de levar uma volta de 180 graus. Os alunos, quer tivessem aproveitamento ou não, deveriam manter-se na escola até aos 15 anos. Aí começaram a criar-se cursos paralelos para os alunos com menos aptidões para os saberes académicos característicos dos liceus. Os alunos portadores de deficiência que também passaram a vir para a escola e tiveram de ter, de igual modo, tratamento diferente que fosse ao encontro das suas capacidades. E aí, os que continuaram a comportar-se como “professores do liceu” porque não conseguiram ou não quiseram estudar para compreenderem a mudança, começaram a falar em facilitismo e em laxismo.

Foi e ainda é difícil fazer as pessoas compreenderem que poderemos (e deveremos, quanto a mim) fazer passar de ano um aluno que, mesmo depois de repetir duas vezes o mesmo ano, apresenta elevado número de negativas. Pois! Para que adianta obrigá-lo a repetir pela terceira vez o mesmo ano com matérias e actividades que ele já conhece e que não lhe interessam ou que não consegue aprender? Que adianta reter um aluno com 16 ou 17 anos no 9º ano só porque não teve as médias que lhe permitiriam passar? Acham que esse aluno vai voltar para a escola para repetir tudo outra vez? Não vai! Não será muito mais útil ele sair com o diploma que lhe permite ir trabalhar numa actividade que esteja ao nível das suas capacidades e até das suas apetências? E não me venham os colegas do secundário dizer: “Ah, mas esse aluno pode matricular-se no 10º ano!” Pois pode. E depois? Aí, tratem-no como professores de liceu e chumbem-no logo em Outubro! – Agora, com o alargamento da escolaridade obrigatória para os 18 anos, os “professores de liceu” vão ter de aprender a dar a tal volta de 180 graus que os outros deram e de que falei atrás.

Não podemos ter a veleidade de obrigar todos os miúdos a aprenderem todos os conteúdos de todas as disciplinas!

O Professor Nuno Crato critica a forma como os programas têm vindo a ser feitos nos últimos vinte anos e considera-os românticos e facilitistas e terá certamente a sua razão porque estudou e investigou. O que não se tolera são os pequeninos “nuno-cratos” que ainda pululam nas escolas básicas que, muitas vezes, depois de mostrarem que não sabem como se atraem os alunos para as matérias que ensinam, querem realizar as suas maldadezinhas nas notas que dão aos alunos porque estes, em vez de terem média final de 50% nos testes para passarem o ano, tiveram média nos testes de apenas 46 ou 47%...



sexta-feira, 18 de junho de 2010

Morreu José Saramago

  
Toda a gente já sabe, mas não posso deixar de registar isso aqui. Não vou dizer nada sobre o escritor porque nada de novo há para dizer. Ouvi na rádio que ele se apagou na sua casa, em Lanzarote, às 12.45, hora de Espanha. E que o jornalista João Céu Silva do DN foi o último a quem Saramago concedeu uma grande entrevista de cerca de 22 horas. Vamos esperar que o respectivo livro seja editado que deve bem valer a pena ser lido.

O primeiro texto literário do nosso Nobel com que tive contacto foi-me dado a conhecer através de uma selecta de textos que adoptei para a disciplina de Português para os meus alunos do 5º ano experimental (equivalente ao actual 9º) no ano lectivo de 75/76 (selecta essa muito contestada pelos pais aqui de Leiria junto do Conselho Directivo, porque incluía muitos textos de autores ligados ao Partido Comunista). O texto chamava-se “Carta para Josefa, minha avó”. Fragmento muito belo e muito emotivo que uma aluna (filha de uma família da classe chamada “média-alta” e nada ligada ao referido partido) decorou e quis declamar para a turma. Nunca mais me esqueci desse momento alto de poesia na sala de aula, pela qualidade do texto e pela emoção que a aluna (actual conhecida psicóloga da “praça”) pôs na forma como o disse.

É apenas este o meu tributo ao escritor, homem de letras e grande observador sócio-político da actualidade, por vezes tão mal compreendido e tão mal tratado na pátria e cuja crítica não vamos ouvir mais. Ficam os seus textos e os seus livros (de que tenho de destacar “O Ano da Morte de Ricardo Reis” o meu preferido) para o fazerem por ele.

Carta para Josefa, minha avó


Tens noventa anos. És velha, dolorida. Dizes-me que foste a mais bela rapariga do teu tempo - e eu acredito. Não sabes ler. Tens as mãos grossas e deformadas, os pés encortiçados. Carregaste à cabeça toneladas de restolho e lenha, albufeiras de água. Viste nascer o sol todos os dias. De todo o pão que amassaste se faria um banquete universal! Criaste pessoas e gado, meteste os bácoros na tua própria cama quando o frio ameaçava gelá-los. Contaste-me histórias de aparições e lobisomens, velhas questões de família, um crime de morte. Trave da tua casa, lume da tua lareira - sete vezes engravidaste, sete vezes deste à luz.



Não sabes nada do mundo. Não entendes de política, nem de economia, nem de literatura, nem de filosofia, nem de religião. Herdaste umas centenas de palavras práticas, um vocabulário elementar. Com isto viveste e vais vivendo. És sensível às catástrofes e também aos casos de rua, aos casamentos de princesas e aos roubos dos coelhos da vizinha. Tens grandes ódios por motivos de que já perdeste a lembrança, grandes dedicações que assentam em coisa nenhuma. Vives. Para ti, a palavra Vietname é apenas um som bárbaro que não condiz com o teu círculo de légua e meia de raio. Da fome sabes alguma coisa: já viste uma bandeira negra içada na torre da igreja. (Contaste-me tu, ou terei sonhado que o contavas?...) Transportas contigo o teu pequeno casulo de interesses. E, no entanto, tens os olhos claros e és alegre. O teu riso é como um foguete de cores. Como tu, não vi rir ninguém.



Estou diante de ti, e não entendo. Sou da tua carne e do teu sangue, mas não entendo. Vieste a este mundo e não curaste de saber o que é o mundo. Chegas ao fim da vida, e o mundo ainda é, para ti, o que era quando nasceste: uma interrogação, um mistério inacessível, uma coisa que não fazia parte da tua herança: quinhentas palavras, um quintal, a que em cinco minutos se dá a volta, uma casa de telha vã e chão de terra batida. Aperto a tua mão calosa, passo a minha mão pela tua face enrugada e pelos teus cabelos brancos, partidos pelo peso dos carregos - e continuo a não entender. Foste bela, dizes, e bem vejo que és inteligente. Porque foi então que te roubaram o mundo? Quem to roubou? Mas disto entendo eu, e dir-te-ia o como, o porquê e o quando, se soubesses compreender. Já não vale a pena. O mundo continuará sem ti - e sem mim. Não teremos dito um ao outro o que mais importava.



Não teremos realmente? Eu não te terei dado, porque as minhas palavras não são as tuas, o mundo que te era devido. Fico com esta culpa, de que me não acusas - e isso ainda é pior. Mas porquê, avó, porque te sentas tu na soleira da tua porta, aberta para a noite estrelada e imensa, para o céu de que nada sabes e por onde nunca viajarás, para o silêncio dos campos e das árvores assombradas, e dizes, com a tranquila serenidade dos teus noventa anos e o fogo da tua adolescência nunca perdida: "O mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer!"

É isto que eu não entendo - mas a culpa não é tua.

José Saramago, "Deste mundo e do outro"
Publicado no jornal A Capital do dia 14/Março/1968

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Vêm aí os mega-agrupamentos!


(L'important, c'est la rose l' ímportant...)

Falei nisso a colegas, mas não me deram saída. Que não sabiam o que eram. Que não tinham ouvido falar. É assim com grande parte dos professores: não têm interesse por se informarem e só se apercebem das coisas quando lhes “caem em cima”!

Já veio nos jornais, no início deste mês e os blogs da educação também já andam a atacar esta matéria. E até já saiu a Resolução do Conselho de Ministros n.º 44/2010 que quase os define preto no branco. É a Resolução de Conselho de Ministros n.º 44/2010 que diz no seu art. 1º o seguinte:

1 — Estabelecer orientações para o reordenamento da
rede escolar, no sentido de:
a) Adaptar a rede escolar ao objectivo de uma escolaridade
de 12 anos para todos os alunos;
b) Adequar a dimensão e condições das escolas à promoção
do sucesso escolar e ao combate ao abandono; e
c) Racionalizar os agrupamentos de escolas, de modo
a promover o desenvolvimento de um projecto educativo
comum, articulando níveis e ciclos de ensino
distintos.

E o seu art. 9º prevê o seguinte:

9 — Estabelecer que a sede do agrupamento de escolas
deve funcionar num estabelecimento público de ensino em
que se leccione o ensino secundário ou, em alternativa,
noutro que não leccione o ensino secundário, sempre que
tal permita assegurar:
a) Que o agrupamento não exceda a dimensão adequada
ao desenvolvimento do projecto educativo;
b) Uma gestão mais eficaz do agrupamento de escolas; ou
c) Uma melhor integração das escolas nas comunidades
que servem ou na interligação do ensino e das actividades
económicas, sociais, culturais e científicas.

Estão a ver o transtorno disparatado que isto vai trazer na gestão e na organização das escolas, não estão? Já foi difícil quando se decretaram os agrupamentos de escolas. Mas estes traziam a vantagem de tirar as escolas do 1º ciclo do isolamento em que pretensamente viviam e tinham como objectivo promover a articulação entre programas, professores e alunos dos vários ciclos do Ensino Básico. Por outro lado, os professores das EB 2/3 já estavam habituados a trabalhar e a conviver com a escolaridade obrigatória há algum tempo (especialmente os do 2º ciclo) o que veio, de algum modo, facilitar a miscibilidade, a integração do 1º ciclo e do pré-escolar.

Agora estão a ver os nossos colegas do ensino secundário que são tão cheios de si próprios, dos seus saberes e dos seus conteúdos, que se apregoam como sendo o ensino preparatório para o superior, que até queriam transformar o secundário num espaço a dois ritmos – o secundário inferior e o secundário superior – que não têm ainda a mais pálida ideia do que é o ensino obrigatório, terem de absorver, do pé para a mão, as escolas EB 2/3 e as EB 1 e os jardins-de-infância...

Isto seria algo interessante se se tratasse de uma escola que abarcasse todos os alunos mais ou menos nas mesmas instalações ou lá perto, assim como já quase acontece em Alvaiázere, ou em Vieira de Leiria, ou em Mira d’Aire. Agora criar-se esta situação para um mundo de 3000 alunos e quantos professores? E quantos funcionários?

Não me venham atirar areia para os olhos com a panaceia do mesmo Projecto Educativo para os alunos dos 3 aos 18 anos! O Professor João Barroso, pai do Projecto Educativo em Portugal, não o previu assim, posso assegurar! Até porque ele fala em identidade e diversidade como sendo as características de um Projecto Educativo e com a integração dos actuais agrupamentos que ainda não estão bem “cimentados” com as escolas secundárias (que vão mandar) aí vai por água abaixo a identidade e a diversidade de uns e de outras, mas especialmente a dos agrupamentos. Estou a ver a secundária Rodrigues Lobo a “engolir”, a muito breve trecho, o agrupamento D. Dinis!

Além de que vai trazer muito mal-estar nas direcções executivas que foram eleitas “a vapor” sem nem sequer deixarem terminar os mandatos dos conselhos executivos anteriores e que se vão ver obrigadas a cair por força da criação também “a vapor” destes pouco simpáticos mega-agrupamentos...