quarta-feira, 30 de abril de 2014

Avril au Portugal

Realmente a Primavera este ano tem sido diferente: um dia está calor, no outro está frio; de tarde está um sol ameno mas logo, logo poderá levantar-se vento e o céu embrulhar-se em nuvens negras.

Os gatos cá de casa continuam a ter comportamentos invernosos...







Eu tenho para mim que eles se têm perguntado pelo famoso e proverbial Avril au Portugal...

E por aí? Quem se lembra do Avril au Portugal, a canção de propaganda turística  que o SNI lançou na Europa?

Ora oiçam.






E, já agora, qual das versões gostaram mais?

terça-feira, 29 de abril de 2014

Tango

Quando chega este dia que dizem mundial da dança, as primeiras imagens que se me formam na mente e na retina são deste tipo.







Hoje, porém, escolhi um trecho de dança que me agrada especialmente dançar. Vejam se gostam.





domingo, 27 de abril de 2014

A nossa deficiente formação


Penso muitas vezes nisto, mas não verbalizo com medo de que me considerem ultrapassada e arrogante: a mim parece-me que algumas áreas base da cultura política e social no nosso país, como sendo a Justiça, a Educação, a Empregabilidade para não falar sequer na operacionalização da política governamental, falham por deficiente formação dos seus profissionais principais.

Quando, há apenas quarenta anos, caiu a ditadura, éramos, na sua generalidade, um povo analfabeto, iletrado, inculto, paroquial, em quem tinham inculcado uma cultura de suspeição e de medo, de submissão e cumprimento cego dos deveres impostos, sem a mínima noção dos seus direitos ou liberdade para lutar por eles.

Eram escassas as escolas e serviam apenas quem tinha posses para as frequentar; os hospitais eram de igual modo escassos e deficientes e mal serviam os pobres já que o direito à saúde era apenas para quem tinha dinheiro para recorrer aos médicos particulares. Isto para falar dos direitos mais fundamentais, deixando de parte a alimentação, a habitação e os princípios mais básicos de higiene sanitária.

Os profissionais dessas áreas eram poucos porque não havia necessidade de que houvesse muitos já que as exigências do povo eram nulas. De modo que, quando em 74 aquele grupo de capitães loucos, de uma loucura branca e gratuita, (a quem há quem diga quenada devemos) decidiu pôr um basta nisso, pouco ou nada tínhamos – a não ser as finanças equilibradas que os saudosos desses tempos tanto evocam. Sabe Deus a que custo!

Por isso houve que fazer tudo. E na ânsia de tudo se querer fazer para finalmente parecermos pertencer à Europa, muito se atabalhoou. Porque assim teve de ser. E os profissionais que não havia tiveram de ser criados à força.

Houve que produzir professores rapidamente – foi por onde se começou e bem. De não lembrar sequer aquela fase inicial em que nas escolas recebíamos alunos de engenharia para ensinar francês ou música, e muitos, muitos “professores” habilitados apenas com o 7º ano dos liceus… Foi difícil encaminhar as coisas na Educação e depois, já na década de 80, nasceram as Escolas Superiores de Educação, com um âmbito restrito que rapidamente se foi alargando – sabe Deus como e porquê. Grande confusão também na delineação dos programas e dos planos de estudo. Corte radical com o que se ensinava antes de 74. Revolução é para isso mesmo: não é para deixar tudo igual.

Rapidamente os alunos que acorreram à escola de foram tornando eles próprios profissionais daquelas áreas acima referidas e de outras que entretanto se tornaram indispensáveis. E, na pressa de tudo fazer assimilando o que se fazia “lá fora”, fomos descurando o estudo da nossa História, da nossa Literatura nomeadamente na sua linha diacrónica que, de repente e na voracidade de viver o presente e galgar etapas, tudo o que era História fosse do que fosse, ficou esquecido. O estudo da Filosofia foi descurado. O Latim desapareceu. O estudo estrutural da nossa Língua foi abandonado. A leitura dos clássicos e dos nossos autores, capazes de nos formarem como pessoas pensantes, foi esquecida. Tudo foi preterido pela corrida insana às recém-chegadas gestão e informática. Quem não se laçasse de cabeça na aprendizagem dessas ferramentas – que mais não são do que meras ferramentas – era apelidado de «totó».

Uma exceção talvez: a Medicina.

E assim chegámos à era dos técnicos. E que bons somos nessas áreas! Tanto assim que tão apreciados são na Alemanha, na Inglaterra. Mas... e os advogados, os juízes, os dirigentes das empresas, os decisores políticos, os professores? Que me interessa a mim, por exemplo, professora de… ter papéis e mais papéis que atestam que sei usar muito bem os quadros interativos e que sei fazer gráficos muitos vistosos com as classificações dos alunos se não sei como avaliá-los,  nem sou capaz de me entender com eles?


Sem as necessárias fortes bases da Humanidades e da Formação Pessoal, não prestam! E por isso a Justiça, a Educação, a Empregabilidade, a Política vão tão mal!

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Quem nos dera!

Quem nos dera que houvesse quem, amanhã, desse assim voz de rendição ao atuais governantes!





Quem nos dera que houvesse quem amanhã pudesse arrear assim os retratos dos atuais governantes!






Quem nos dera!!

quinta-feira, 24 de abril de 2014

E a gente acorde finalmente em Portugal!


«Que o poema seja microfone e fale
        uma noite destas de repente às três e tal
   para que a lua estoire e o sono estale
         e a gente acorde finalmente em Portugal».

                                                (Manuel Alegre, in O Canto e as Armas, 1967)





«E a gente acorde finalmente em Portugal!!»

quarta-feira, 23 de abril de 2014

E viva o futebol!!


Recebi há pouco por e-mail um comunicado da Federação Nacional dos Médicos que deixo aqui para que conste. (os sublinhados são meus)

O Governo e o seu ministro da saúde desencadeiam o mais violento ataque para destruir o SNS!!!

O Governo e o seu Ministério da Saúde publicaram uma portaria (nº 82/2014) a 10/4/2014 que constitui o mais violento ataque ao SNS e ao direito constitucional à saúde, visando proceder ao integral desmantelamento de toda a rede hospitalar pública.

Nesse sentido, a FNAM considera urgente denunciar as seguintes questões fundamentais:

1- É inadmissível que um assunto desta enorme importância como é o estabelecimento de critérios para categorizar os serviços e estabelecimentos dos serviços de saúde seja remetido para uma mera portaria.

Esta medida só pode ser encarada como uma ação deliberada para fugir à discussão e até à negociação do seu conteúdo, dado que as portarias não estão obrigadas ao cumprimento dessas exigências legais gerais.

O secretismo da elaboração desta medida culminou com a sua publicação em portaria para criar a política do facto consumado.

Não é conhecido qualquer tipo de fundamentação para as medidas aí contidas, nem qualquer estudo dos impactos para as populações em termos assistenciais.

2- Os objetivos fundamentais desta portaria são o encerramento arbitrário de serviços hospitalares, alguns deles de elevadíssima qualidade assistencial e dotados de sofisticada tecnologia, colocar os vários sectores de profissionais de saúde em mobilidade forçada, despedimento de milhares de profissionais de saúde, diminuição acentuada da capacidade formação de novos profissionais, encerramento da maioria das maternidades do país, diminuição acentuada da capacidade de resposta global do SNS, criar condições incontornáveis para uma rápida expansão das entidades privadas, à custa dos subsistemas de saúde, e dar mais um passo, desta vez decisivo, para uma acelerada desertificação de vastas zonas do interior do país.

3- A portaria confere liberdade às entidades privadas das PPP de escolherem a carteira de especialidades que mais lhe convêm mediante os processos de negociação dos contratos de gestão e atribui à ACSS (Administração Central do Sistema de Saúde) do Ministério da Saúde o poder exclusivo e arbitrário de autorizar, sem estarem previamente definidos quaisquer parâmetros, a instalação de novos serviços hospitalares.

4- As especialidades médicas de endocrinologia e de estomatologia são eliminadas dos hospitais públicos, os hospitais pediátricos são eliminados, o mesmo acontecendo ao Instituto Oftalmológico Dr Gama Pinto (Lisboa), que possui uma elevada diferenciação técnico-científica nessa área médica, e a dois importantes serviços de cirurgia cardiotorácica como o do Hospital de Gaia e do Hospital de Santa Cruz (Lisboa). Neste último caso, é curioso verificar que se trata de um hospital especializado na área do coração e que ao mesmo tempo que se estabelece a decisão de o liquidar são mantidos vultuosos contratos nesta área com o hospital privado da Cruz Vermelha Portuguesa, em Lisboa.

É indispensável lembrar a polémica já existente em torno das cirurgias cardiotorácicas na cidade de Lisboa, há cerca de 6 meses, com a divulgação de um relatório de uma comissão nomeada pelo Ministério da Saúde e que visava tão-somente a justificação dos contratos com aquela entidade privada.

É agora mais do que evidente que o Ministério da Saúde está a preparar, de facto, o encerramento do Hospital de Santa Cruz, tal como já na altura alertámos em comunicado.

É, ainda, indispensável sublinhar que os Hospitais de Anadia, Cantanhede e Ovar desaparecem da relação dos hospitais públicos, o que significa que o Ministério da Saúde já tomou a decisão de os privatizar ou entregar às misericórdias das respetivas zonas.

5- De acordo com o conteúdo da portaria, grande parte das maternidades do nosso país vão ser encerradas.

Nos hospitais do chamado Grupo I deixa de existir a especialidade de obstetrícia, o que implica o encerramento das respetivas maternidades.

Assim, irão desaparecer até 31/12/2015 as maternidades nos seguintes estabelecimentos hospitalares:
- Unidade Local de Saúde Norte Alentejo (Portalegre); Unidade Local de Saúde Baixo Alentejo (Beja); Unidade Local de Saúde Litoral Alentejano (Santiago do Cacém); Centro Hospitalar Cova da Beira (Covilhã e Fundão); Centro Hospitalar de Leiria; Centro Hospitalar do Baixo Vouga (Aveiro, Águeda e Estarreja); Hospital da Figueira da Foz; Unidade Local de Saúde da Guarda; Unidade Local de Saúde de Castelo Branco; Centro Hospitalar Barreiro/Montijo; Centro Hospitalar de Setúbal; Centro Hospitalar do Oeste (Torres Vedras/Caldas da Rainha); Centro Hospitalar do Médio Tejo (Abrantes, Torres Novas eTomar); Hospital de Santarém; Hospital Fernando da Fonseca (Amadora/Sintra); Centro Hospitalar do Alto Ave (Guimarães e Fafe); Centro Hospitalar do Médio Ave (Famalicão e Santo Tirso); Centro Hospitalar entre Douro e Vouga (Feira, Oliveira de Azeméis e S. João da Madeira); Centro Hospitalar Póvoa do Varzim/Vila do Conde; Centro Hospitalar Tâmega e Sousa ( Penafiel e Amarante); Hospital Santa Maria Maior (Barcelos); Unidade Local de Saúde de Matosinhos; Unidade Local de Saúde do Alto Minho (Viana do Castelo); Unidade Local de Saúde do Nordeste (Bragança, Mirandela e Macedo de Cavaleiros).

6- As várias declarações já emitidas pelo Ministério da Saúde e seus serviços centrais negando o encerramento de qualquer maternidade ou qualquer redução de serviços é uma atitude lamentável e revela uma chocante falta de seriedade política.

O conteúdo da portaria é claro e muito objetivo nas suas disposições gravosas.

Muitos milhares de cidadãos vão ficar impossibilitados de aceder aos serviços de saúde.

7- A gravidade desta portaria ministerial culmina o trabalho disfarçado do Ministério da Saúde em aplicar continuadamente cortes muito superiores aos exigidos pela Troika, colocando agora a nu uma política premeditada de destruição do SNS.

É tempo de parar definitivamente com esta ação de destruição social encetada pelo Governo que se comporta perante os cidadãos portugueses como se de uma força bélica de ocupação do nosso país se tratasse.

A FNAM apela a todos os médicos, em particular, e aos cidadãos, para se oporem a estas novas e brutais medidas.

Reafirma, também, o seu empenho em colaborar com todas as forças e entidades que defendem o SNS e o Estado Social.

É preciso dizer basta. E já!!!

Porto, 22/4/2014
A Comissão Executiva da FNAM


Ao ler este amontoado de aleivosias, lembrei-me de um desabafo que um amigo escreveu há dias no facebook (e não se pense que se trata de um qualquer iletrado; trata-se de pessoa por de mais culta e conhecedora.)

«Povo de enconados!
Vão-lhes ao bolso, calam-se como escravos cobardolas!
O clube da preferência ganha ou perde, berram a plenos pulmões e saem todos à rua!»

Pois a mim parece-me que, ao ter-se conhecimento de uma enormidade como é a “consagrada” na referida Portaria, a Praça do Marquês de Pombal deveria ser pequena para reunir todos os que se considerassem prejudicados por essa lei ignara de forma a abanar as consciências (e também o físico, porque não?) destes facínoras que muitos cegamente ajudaram a eleger!


terça-feira, 22 de abril de 2014

Cesário celebra a Terra



Quem melhor que o poeta que tanto amou o campo para celebrarmos hoje o nosso planeta Terra?

Olá! Bons dias! Em Março,
Que mocetona e que jovem
A terra! Que amor esparso
Corre os trigos, que se movem
Às vagas dum verde garço!

Como amanhece! Que meigas
As horas antes de almoço!
Fartam-se as vacas nas veigas
E um pasto orvalhado e moço
Produz as novas manteigas.

Toda a paisagem se doura;
Tímida ainda, que fresca!
Bela mulher, sim senhora,
Nesta manhã pitoresca,
Primaveril, criadora!

Bom sol! As sebes de encosto
Dão madressilvas cheirosas
Que entontecem como um mosto.
Floridas, às espinhosas
Subiu-lhes o sangue ao rosto.

Cresce o relevo dos montes,
Como seios ofegantes;
Murmuram como umas fontes
Os rios que dias antes
Bramiam galgando pontes.

E os campos, milhas e milhas,
Com povos de espaço a espaço,
Fazem-se às mil maravilhas;
Dir-se-ia o mar de sargaço
Glauco, ondulante, com ilhas!


(...)





E... lembremo-nos



segunda-feira, 21 de abril de 2014

Ermida da Memória



«De D. Fuas Roupinho apenas se sabe que morreu em 1184 numa batalha naval com os Mouros. Quanto ao resto, uns dizem ter sido irmão bastardo de D. Afonso Henriques, outros aio de D. Pedro Afonso, este sim, bastardo do conde D. Henrique e grande amigo do fundador.

Pois guerreava D. Fuas os Mouros em Porto de Mós, de cuja vila era alcaide, em meados de 1180, o príncipe D. Sancho combatia outras forças mouras no Alentejo e D. Afonso Henriques, em Coimbra, aguardava notícias de ambos. Por fim chegou D. Fuas com prisioneiros mouros, entre eles o rei Gamir, de Mérida e a filha, bem como os tesouros tomados. Abraçaram-se e D. Afonso Henriques escuta do mouro palavras de louvor pelo seu poder. Desesperado, o mouro desfalece, amparando-o a filha. O rei português manda que lhe retirem as grilhetas e os tratem bem. D. Fuas levou pai e filha para o seu Castelo de Porto de Mós, onde o amigo rei o mandara recolher para que repousasse.

Ali chegados, ante a curiosidade da princesa moura, D. Fuas foi mostrar-lhe a gruta onde uns pastores haviam encontrado a imagem de Nossa Senhora da Nazaré. A jovem ficou encantada e desejosa de converter-se.

Enquanto ela ficava admirando-a, o alcaide foi dar um passeio a cavalo. De repente, junto de si levantou-se um veado e ele logo decide dar-lhe caça. Foi uma perseguição tremenda, até que o cavaleiro sentiu que nada tinha diante de si. Nada, a não ser um precipício sem fim, com o mar ao fundo. O cavalo fincara as patas na pedra e D. Fuas murmurou:

- Valha-me Nossa Senhora da Nazaré! – Uma eternidade pareceu a D. Fuas Roupinho o tempo em que a sua montada teve as patas dianteiras procurando apoio no vazio. Os olhos de D. Fuas cravaram-se nas duas marcas da ferradura do seu cavalo na pedra onde estivera. (…)



D. Fuas cavalgou depois até à gruta onde deixara a princesa e viu-a chorosa:

- Quando vos aquele veado negro à vossa frente, senhor, tive tanto medo! Parecia a representação do mal!

- Era o próprio demónio, minha filha! – D. Fuas foi ajoelhar-se diante da imagem de Nossa Senhora da Nazaré, agradecendo-lhe o milagre que lhe salvara a vida. Depois mandou fazer a capelinha da invocação da santa junto ao sítio, hoje chamado Ermida da Memória, onde se dera o milagre e meter lá a imagem, onde é venerada por milhares de pessoas.


Conta a lenda que a referida imagem foi esculpida por São José na presença da própria Virgem e que um monge grego, Ciríaco de seu nome, a terá levado para o Mosteiro de Cauliniana, em Mérida. Dali, o rei Rodrigo e um tal Frei Romano, após a derrota dos cristãos em Guadalete, foram parar, correndo novembro de 714, ao monte de São Bartolomeu, perto da atual Nazaré. E aí a esconderam numa gruta. O resto já sabem.»

(João Viale Moutinho, in «Portugal Lendário», Círculo de Leitores, 2013)


Interior da capelinha chamada de Ermida da Memória, toda forrada a azulejo.











Imagem de Nossa Senhora da Nazaré.




Representações da lenda de D. Fuas.










Baixo relevo em pedra calcária dos séculos XII - XIII (Ermida da Memória)



Vale a pena (re)visitar!

domingo, 20 de abril de 2014

A ver o mar

Hoje deu-nos para ir ver o mar. Que lindo estava o mar! E uma constante atração, o mar.


«Georges! anda ver meu país de Marinheiros,
O meu país das Naus, de esquadras e de frotas!» 



Pode não ser a bela Ponta da Piedade, mas bela é também...









Promontório de lendas e de mitos



De construções antigas 





Mas se não vos desse uma "dica" não saberiam do que tenho estado a falar... Ou saberiam?




A onda do McNamara é que não estava lá...

sábado, 19 de abril de 2014

Boa Páscoa!



«Doutor, por vezes penso que sou o coelhinho da Páscoa. Outras vezes tenho a sensação de que sou o primeiro-ministro de Portugal...»

(...)


Como o coelho anda problemas de identidade e precisa de consultas de psicanálise, vi-me forçada a recorrer a outro para vos desejar uma...




sexta-feira, 18 de abril de 2014

Sexta-feira Santa

Sexta-feira Santa, dia de não comer carne. E assim foi hoje, uma vez mais: nada de carne! Um hábito, uma tradição que herdámos de outros tempos, que já disse aqui que pouco ou nada tenho a ver com as regras e dogmas da Igreja. Deve ser o único sinal que resta – e não para todos – daquilo que era a Sexta-feira Santa no tempo da minha juventude. Era o dia mais cinzento, mais bisonho, mais enfadonho do ano. E tudo decorrente de uma forma de infundir a superstição, o medo, o terror por parte de um regime clerical e ditatorial a que tínhamos todos de curvar a cerviz.

Toda a gente se vestia de luto carregado: os homens punham gravata preta e até um fumo preto na manga e até as crianças se vestiam de escuro. Todo o comércio estava fechado, os cinemas encerravam, as estações de rádio transmitiam música de câmara todo o dia e, quanto à RTP, o único canal de televisão, só neste dia do ano é que não tinha programação. Um exagero, um verdadeiro fundamentalismo. E, por ironia ou sei lá por que força física ou metafísica, normalmente chovia todo o dia.

O dia em que fiz 18 anos coincidiu com uma Sexta-feira Santa e, como o meu pai nessa altura trabalhava em Sevilha, levou-nos, à minha mãe e a mim, a passar lá uns dias. Sabe quem já assistiu que a Semana Santa em Sevilha é dose e, por isso, o meu pai que não era homem de se meter em apertos, resolveu que iríamos passar o dia dos meus anos que, como já disse, calhou na sexta-feira santa, a Ayamonte, atravessando o Guadiana para o lado português, o que para mim foi uma grande novidade porque nunca antes tinha posto os pés no Algarve.

Tudo bem! O problema é que a minha mãe, ao contrário do meu pai, dava tudo para se meter no meio da multidão e queria muito assistir às procissões. De modo que, regressados a Sevilha e deixado o meu pai descansadinho no apartamento, lá fui atrás da minha mãe meter-me no meio das procissões. Nem quero que me lembrem o de gente nas ruas, a confusão, o movimento, o luxo dos trajes e dos penteados das sevilhanas, o brilho e até uma certa alegria que desconhecia das sextas-feiras santas do nosso país. Agora o que mais me assustou – sério, assustou-me mesmo! – foram as confrarias dos nazarenos (a que sempre chamei de “bicudos”) com as caras e as cabeças tapadas por aqueles carapuços altos e bicudos do tipo Klu-Klux-Klan que se amontoavam na Catedral  para saírem pelas ruas atrás dos andores. Horrível!

(Mas o caricato foi ver alguns deles, certamente atacados pelo calor e pelo cansaço, sentados nos bancos da entrada da igreja, com a cabeça descoberta, o carapuço posto de lado e a fumarem um cigarro…)









(imagens retiradas da net)

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Os Czares e o Oriente

Escapada até Lisboa para um dia cultural e matar saudades do lugares da juventude. 
Jardins da Gulbenkian e visita à exposição de Os Czares e o Oriente - ofertas da Turquia (da época otomana) e do Irão (do período safávida) na coleção do Kremlin. Uma coleção composta por tecidos, armas, arreios de cavalos, jóias e objetos da vida na corte russa. - peças riquíssimas feitas de ouro e pedrarias por mestres orientais dos séculos XIV a XVII.

Deixo aqui algumas imagens para vos aguçar o apetite para uma visita. Espero que gostem.

Ícone de Nossa Senhora do Leite
 
Moscovo, século XVI
Arreio de cavalo em ouro

Aparato e sela de cavalo bordada a ouro e seda


Cantil revestido a seda, ouro e pedras preciosas - Turquia

Elmos 

Sacrário

         






Punhal com bainha, Irão, séc. XVII

Relógio de bolso, séc. XVII

Conjunto de escrita

Tapeçarias
(in www.dn.pt)

(parte das imagens foram retiradas do site do museu)