quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Um dia não muito longe...

... nem muito perto...


Às vezes sabes sinto-me farto
por tudo isto ser sempre assim
Um dia não muito longe não muito perto
um dia muito normal um dia quotidiano
um dia não é que eu pareça lá muito hirto
entrarás no quarto e chamarás por mim
e digo-te já que tenho pena de não responder
de não sair do meu ar vagamente absorto
farei um esforço parece mas nada a fazer
hás-de dizer que pareço morto
que disparate dizias tu que houve um surto
não sabes de quê não muito perto
e eu sem nada pra te dizer
um pouco farto não muito hirto e vagamente absorto
não muito perto desse tal surto
queres tu ver que hei-de estar morto?


Ruy Belo – ‘homem de palavra(s)’






7 comentários:

  1. As palavras de Ruy Belo, foram sempre muito belas!
    Já conhecia o poema, mas não pude evitar um estremecimento ao relembrar agora, esse dia não muito perto nem muito longe...
    Até a foto que escolheste, enevoada e pouco nítida, é suficiente para nos sentirmos em comunhão com essa certeza...incerta.

    Um beijinho, Graça.

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  2. Poema realista que se agrega e muito a sentimentos e recordações...
    Abraço.

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  3. Maravilha, pleno de sensibilidade.
    Beijos, bfds

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  4. Um poema de uma lucidez impressionante.
    Apetece-me dizer como ele" às vezes sinto-me farta"
    Gostei do poema e da imagem que escolheste.

    Beijinhos Graça

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  5. É isso!... A voz do poeta que vem ter connosco, precisamente no lugar onde nos encontramos e nos lê como se nos fosse pele.

    Bj.

    Lídia

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